quinta-feira, 5 de abril de 2007

POEIRA

Vejo fotos de uma época onde ríamos de tudo.
Ou quase.
Fotos felizes cobertas de poeira.
Era uma época onde as portas não eram batidas.

Você procura papéis barulhentamente,
enquanto eu - tentando manter a calma -,
irritantemente enrolo a pontinha da fronha.

Vontade de ter uma resposta para cada vazio.
Vontade de ter o filho,
de ter paz,
de ter paciência ao quadrado.

Você se transformou num cara mudo, surdo e impaciente.
E reclama que eu não falo mais.
E eu quase grito!
O mais triste é que acho que a culpa é minha.

Não sei o que fazer pra voltar no tempo.
Você soca a tampa da garrafa na cozinha.
Ouço do quarto.
Bate a porta do banheiro de empregada.
Ouço do quarto.
Faz cara de quem sumiu, ou morreu.
(sinto do quarto)
Eu ainda estou aqui.

Talvez seus papéis estejam onde sempre estiveram:
na sua mesa do trabalho.
E eu - até quando? - estou aqui.