quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Silêncio

Tenho vivido dias em que não quero falar com ninguém. Principalmente com gente íntima: mãe, marido, melhores amigos, colegas-de-trabalho-de-mesa-e-de-baia... Em dias que a gente tá muito mal, devíamos ter o direito de não falar com quem nos conhece tão bem. Mas, vai tentar explicar? Qualquer palavrinha é uma ofensa. E como o silêncio também ofende, não há saída. Sinceramente? Eu não queria ser uma pessoa íntima minha nestes dias... Por quê? Ora, bolotas, Porque eu sou uma grossa! Uma pessoa insuportável que dá foras tão inteligentemente agressivos e tão brilhantemente aplicados que... Eu não me suportaria. Eu me mandaria tomar no lugar mais obscuro que alguém pode sugerir. Não. Não estou na TPM. Meu marido delicadamente disse uma vez que eu SOU A TPM. Só não o mandei “praquele” lugar porque concordei com ele. O que eu queria mesmo era ter o direito de ir para algum lugar bem longe, e ficar calada ouvindo o barulhinho da chuva...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

UMA HISTÓRIA DE NÓS DOIS

“Me abraça até passar a chuva ?”
Tinham se amado até a exaustão, mas ainda assim não conseguiam se separar. Os corpos ainda um.

“Fica aqui dentro pra sempre?”
Ela dizia sorrindo, com os olhos um pouco fechados.

“ Pra sempre.”
Ele respondia ainda entre as coxas daquela que tinha seu coração.

Silêncio naquele quarto. Somente um som muito suave de um Chet Baker tocando seu trompete. Os corpos abraçados sobre a cama que era o mundo daqueles dois.

Ela pensava na conta de luz que venceria no próximo dia 21, enquanto ele pensava no e-mail que havia deixado de enviar a um amigo. Depois ela pensava que precisava lavar a louça do jantar da noite passada, enquanto ele pensava que não podia deixar de regar suas plantinhas. Então ela pensava que era maravilhoso estar ali, abraçada ao seu amor mais uma vez, enquanto ele pensava exatamente a mesma coisa. Então se olharam novamente, praticamente no mesmo segundo. E sorriam docemente um pro outro e diziam com os olhos sorrindo que mesmo que a chuva passasse, nada teria fim.

Amor assim, acontece todo dia, e pra sempre.

Depois de mudos terem dito tantas coisas, se abraçaram mais forte e recomeçaram.


Escrito para o meu amor nos primeiros meses. No ínicio de nós dois.

ASSIM NO CÉU COMO NA TERRA

A vida pra ela acabava assim, meio sem graça. Que nem maria-mole, arroz sem acompanhamento e partida de futebol sem gol.

Tinha lá seus cinqüenta e pouquinhos. Era bem jovem, e é bem verdade que não se pensava assim. Aliás, se comportava como se tivesse bem mais, como se já tivesse uns oitenta e muitos. Era chata, ranzinza, resmungona, e é bem verdade que gostava de maltratar os gatos da vizinhança jogando-lhes as águas sujas dos seus constantes “escalda pés”.

Porém, como não era de se esperar, foi para o céu. Não podia acreditar que sabendo ter sido anunciada várias vezes a encomenda de sua futura visita ao inferno, estivesse parada ali, diante daquela porta gigantesca, com maçanetas de argola sobre a fechadura. Resolveu espiar - coisa que fazia muito bem - aproximou-se da porta, encostou as mãos a fim de apoiar-se. Levantando os pés metidamente, inclinou o corpo em direção a fechadura. Com a cabeça já dentro da porta, olhou tudo o que pode ver. Achou aquilo tudo muito bonito e muito azul, com garotinhos peladinhos voando por todos os lados. Pôde finalmente constatar de que não se tratava do limbo. Olhou mais um pouco. Achou tudo muito interessante, mas depois de dez minutos passados, percebeu que aquilo tudo era muito lindo e bobo. Os bichos tinham asas! Gatos voadores... Até mesmo os vira-latas eram alados... Qual seria então a função dos passarinhos? Nesse lugar, seriam apenas como os pintos, com a diferença de que quando crescessem, não virariam galinhas.

Cansada de olhar, resolveu procurar por alguém que pudesse convidá-la a entrar. Tirou a cabeça da fechadura com certa dificuldade, pois havia dormido com “bobies” no cabelo, e, sendo assim, prendeu um deles num prego. “Merda!” - resmungou levando seguida e rapidamente uma das mãos à boca, temendo que alguém a tivesse ouvido, condenando eternamente sua entrada no céu. A porta de repente começou a ranger um rangido horrível. Percebeu que se abria. Teria tempo de soltar os cabelos? Não pensou duas vezes. Começou a puxar loucamente os “bobies” e os grampos. Terminou de arrancá-los exatamente quando um velhinho de walkman, túnica amarelinha e um cinturão cheio de chaves abriu a porta. Era São Pedro, tinha certeza. O velhinho se aproximou. Circulou em volta. Olhou estranhamente para sua cara despenteada... Aproximou-se e: “Com licença” - tirou um último “bobie” da cabeleira emaranhada. “Aqui é o céu?” - ao que ele respondeu: “Parece.”- Suspirou aliviada. “Seja bem vinda à eterna morada.”- Meu Deus! Ela mal podia acreditar!!! Finalmente a casa própria! Deu um dos braços ao velhinho e arrastando-o devagar pra dentro da porta, desabafou: “Que bom estar aqui! Sempre sonhei com este lugar... Sempre fui tão religiosa, sabe São Pedro... Sempre fui tão caridosa...” Era tudo mentira, mas o velhinho parecia nem desconfiar da louca que falava e falava e falava sem parar. São Pedro pacientemente ouvia, de vez em quando anotando alguns números cheios de algarismos em seu note book. De súbito a mulher resolveu calar-se. Parou também de andar. Fez uma cara de susto. Perguntou as horas. “Tem televisão?”

Num piscar de olhos estava sentada numa poltroninha bem confortável ao lado de gente muito estranha. “Ai, meu Senhor! E pensar que todos estes são meus irmãos...” Mal podia acreditar que mesmo no céu poderia ver a novela. “...E eu que pensei que ia pro inferno...” - Sorria tranqüíla, até que percebeu que um garotinho ajoelhado a sua frente escondia uma melequinha debaixo do sofá. “Garotinho porco! tirando meleca no céu! É muita cara de pau, hein, criança!” - Nesse momento um homem daqueles de armadura dos livros abriu a porta da sala e pegou a mulher pelo braço. “Me solta!” - “A senhora violou a lei da boa convivência, e como estava em seu período de experiência no céu, foi detida. Além disso, segundo os apontamentos de São Pedro, as informações sobre a senhora não foram nada favoráveis”. “Mas aquele menininho insolente estava tirando meleca! E ainda por cima passou debaixo do sofá! No céu, isso devia ser uma calamidade!” - O homem educadamente respondeu: “Minha senhora, o menino Jesus pode fazer o que quiser. Até mesmo colocar sua melequinha debaixo do sofá”...

E assim acabou a história da mulher ranzinza que foi assistir novela no lugar errado. Amém.

Escrito em 30 de agosto de 2 mil, tempo em que eu tinha mais tempo para escrever...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

PARA VIVER EM PAZ

Para uma convivência de paz sobre a Terra o homem só precisaria respeitar algumas regras básicas: Os Dez Mandamentos e o Hino de seu país. É tão pouco, tão simples, tão óbvio e mesmo assim, ninguém enxerga.

LOBÃO PEIDOU

Lobão peidou. Quem peidou? Lobão. E nem precisou mostrar a mão amarela porque ele mesmo assumiu. Eu não consigo. Nem na vida real nem metaforicamente. Eu não peido. No máximo solto um pum. No banheiro. E por mais que meu “pum” tenha a potência de uma “peida”, chamo de pum. Se não consigo peidar, como declarar que “peido” para a situação do meu país? Jamais. Eu não.

Bem, o fato é que o Senado já passou da fase do “pum” faz tempo. Já não pode ser classificado como “peida” (um amigo diz que termos utilizados no feminino adquirem mais força). O Senado, a Câmara, a Presidência (ou vice-versa) já ultrapassaram os limites do que podemos considerar uma “cagada”. E agora? Não posso vestir a camiseta do movimento PEIDEI. Seria necessário trezentos mil corpos para vestir todas as camisetas que desejo estampar. Preciso de uma com a cara de um palhaço de braços cruzados e expressão emburrada. Acima poderia ler-se “ÓI NÓS AQUI TRAVEIZ...”. A intenção seria usar nas próximas eleições. Estou pensando seriamente em fazer várias e presentear amigos e parentes. Sim. Somos um bando de palhaços. Somos milhões, bilhões contra a CPMF e mesmo assim ela será aprovada pelos babacas que escolhemos para responder por nós. Escolhemos? Que merda. E não vamos fazer NADA! Já pensei em tirar meu dinheiro do Banco ou então comunicar à Empresa que me contrata que doravante só recebo em cash. Mas e aí? Guardo o dinheiro onde? Debaixo do colchão? Não há segurança para isso. Trabalho feito uma corna, longe pacas, gasto mais de 3 horas por dia para ir e voltar - exausta - e não posso dizer nada ao ser “garfada” pelo IR, pela CPMF, pelos impostos “embutidos” ou pelas lojinhas de 1,99 que nunca devolvem meu 1 centavo de troco. Se o reivindico recebo um olhar atravessado da atendente como se querer o MEU troco fosse um assalto. Gostaria de ter livre-arbítrio para decidir o que fazer com o MEU suado dinheiro, com meus investimentos e com o meu troco. Mas não... Não tenho poder sobre o pagamento pelo MEU trabalho. Alguém que se acha mais poderoso do que eu, decide onde e como aplicar meu dinheiro. MENTIRA. Não aplicam em NADA no Brasil. Aqui, só se rouba. Todo mundo rouba de todo mundo e meu marido ainda tem a audácia – ou inocência? - de dizer que o carioca que é malandro. Ei! Eu sou carioca! Nossos filhos idem! Sou absolutamente honesta e no que depender da educação que darei aos meus, eles também o serão.

Bem previu Ney Matogrosso: “Se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come”. Estamos todos fodidos e atolados nesta merda que deixamos se instaurar. Será que a única coisa que nos resta fazer é rezar? Acho que até Deus perdeu a fé.

domingo, 15 de julho de 2007

A PAZ

“Não consigo entender quem apunhala um coração e segundos depois tira o punhal do peito – ainda quente –, corta um pão e o lambuza com manteiga.”

Esse era o reincidente pensamento de D. Rosa às 3:46 da manhã. E não havia silêncio suficiente que a fizesse pregar o olho. Tudo o que mais queria era viver em paz. Mas temia que talvez a única possibilidade para realizar seu desejo fosse a morte. Virou o travesseiro de lado e o afofou um pouco. Amava seu marido ainda. Apesar do tempo, das brigas, das decepções, ainda o amava. Ajeitou o lençol cobrindo a orelha mas tomou cuidado para que o braço esquerdo ficasse de fora. Colocou 3 filhos neste mundo. Dois já criados e um já morando debaixo da terra. Morreu ainda bebê, levando todos os sorrisos de sua juventude e também dos anos futuros. Afofou novamente o travesseiro, com mais vigor e enfiou a cabeça na intenção de esconder o ouvido direito bem escondido. O marido dormia ao lado, pesadamente. Era tão silencioso – e ausente – que se não estivesse ali, talvez não a fizesse falta. Porém, a presença dele a deixava segura. D. Rosa tinha medo de fantasmas. Tinha certeza de que se visse algum e desse um grito, o marido a salvaria. Enganava-se. Ele sequer moveria um dedo. Talvez a empurrasse para proteger a si próprio. Era um grande egoísta. D. Rosa enfiava a mão direita debaixo do travesseiro e com a outra tapava a própria boca. Achou que fosse gritar e não queria acordar o cachorro. Não se importava com o marido, mas com o cachorro sim. Seu fiel companheiro. O ser que sabia de todos os seus segredos e que lhe lambera muitas lágrimas. Ela o amava. Às 4:13 descobriu que o amor pelo cão era maior do que o amor pelo marido. Abriu arregaladamente os olhos e, se descobrindo, virou abruptamente para o outro lado. Cobriu-se novamente esticando o lençol com a pinça do dedão e o dedo médio do pé. Um filme chato passava pela sua cabeça: sua vidinha medíocre. Queria saber o que seria se não fosse o que fora por todos estes anos. Pensou em tantas possibilidades que achou melhor logo esquecer para não piorar sua insatisfação com a vida. Pensava nas crianças. Eram filhos maravilhosos mas àquela altura da vida, já criados, tinham suas famílias e quase nenhum tempo para dedicar à mãe. Não sabia se achava melhor assim mas sabia que merecia descansar. Enfiou novamente a mão debaixo do travesseiro e quando deu por si eram 8:14. Adormeceu mas sentia o peso da insônia nas pernas e nas juntas dos dedos. Levantou-se e em jejum lavou a roupa que deixara de molho. O marido a esta altura já havia saído para trabalhar. Não lhe desejara “bom dia”. D. Rosa tomou um banho demorado. Lavou os cabelos delicadamente, passou sabonete duas vezes em cada axila, secou-se e passou talco e hidratante nos pés. Penteou os cabelos olhando-se no espelho. Via ali em algum lugar o rosto bonito da moça que fora. Sentiu inveja de si mesma. Tentou colocar um vestido vermelho que não lhe cabia há anos. Não passava do quadril. Colocou um vestido florido que odiava mas lhe era confortável. Olhou-se no espelho e a moça que fora havia sumido. Sentou-se à mesa de café, serviu uma xícara, colocou duas colheres pequenas de açúcar. Escolheu um pão adormecido bem clarinho, besuntou a faca de manteiga, passou no pulso direito, depois no esquerdo e cortou. Finalmente encontrou a paz.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O boneco roxo parte IV: Selando a paz

Semana passada liguei para meu amigo que deu o roxão pra Nina - Clécio - propondo que ele viesse pegar o boneco de volta. Ele teve a petulância de dizer que "não poderia recebê-lo". Não tinha espaço! Hahahaha! Ri muito. Bem, hoje um amigo muito amado veio visitar-me - Ricardinho - e num dado momento disse ter visto "álguém". Sim, ele tivera uma visão. Perguntei logo se era preto ou branco. Ele disse que era "do bem", com certeza. Contei-lhe sobre os episódios com o boneco roxo. Ele, muito otimista disse: "Vanessa, nesta casa há duas crianças. Você acha que não existem outros espíritos por aqui, brincando?" - Neste momento selou-se a paz entre nós: eu e o roxão. Acho que ele já pode ficar.